Escritora Thailane Nascimento

Neste blog você encontrará resenhas de livros, filmes. Aprenderá sobre Física, Filosofia, Religião, entre outros assuntos.

                                      

ANÁLISE DAS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: GERMINAL E A SEMENTE QUE SEMEAIS, OUTRO COLHE.

Introdução
                   Com a invenção da máquina a vapor, de James Watt, por volta de 1760, o capitalismo começou a completar a sua formação. A força humana e animal foram substituídas pela força motriz, ou seja, o trabalho artesanal foi substituído pelo das máquinas. A modernização do maquinário fazia com que o capital se concentrasse nas mãos de uma pequena parcela da sociedade, pois os meios de produção eram encarecidos. Para a outra parcela, restava apenas vender a força de trabalho em troca de um baixo salário.
                   Até a Revolução Industrial, o trabalhador era capaz de controlar seu ritmo de produção. Com a industrialização, a divisão do trabalho fez com que as tarefas fossem simples e monótonas para aumentar a produtividade, logo o trabalhador era visto como um apêndice da máquina, e os custos do operário de reduziam, quase, exclusivamente, aos meios de manutenção que lhe eram necessários para viver e perpetuar a sua existência (Marx, 1848). A maquinaria substituiu o homem, e o trabalhador passou a ser descartável e não se reconhecia no produto final. Karl Marx (1844) chamava esse processo de alienação do trabalhador.
                   O objetivo deste trabalho é demonstrar as consequências sociais provocadas pela Revolução Industrial, contrastando o capitalismo com o socialismo, e o surgimento do sindicato. Desde modo, o Filme O germinal e o Capítulo 16 do Livro a História da Riqueza do homem serão analisados a partir do entendimento dos sociólogos Karl Marx, Robert Owen, Saint-Simon, Émille Durkheim e Max Weber.
   
Palavras-chaves em relação as teses: Trabalho Infantil, Fome, Greves, Capitalismo, Socialismo, Anarquismo, Luta de classes.

Ficha Técnica

Título: Germinal
Ano produção: 1993
Direção: Claude Berri
Estréia: 29 de Setembro de 1993 (Mundial)
Duração: 151 minutos
Gênero: Drama, Romance.
Países de Origem: França.
Roteiro: Emile Zola, Arlette Langmann e Claudi Berri.

Estrutura Narrativa

Germinal é um filme francês, produzido por Claudi Berri, baseado no romance de Émile Zola. O filme retrata a relação entre os burgueses e os trabalhadores de uma mina de carvão francesa durante a Revolução Industrial no Século XIX.
                   A trama inicia-se com a chegada de Etiénne, a cidade de Marchiennes, onde fica uma mina chamada Voreux, procurando por emprego. Observando tudo o que estava a sua volta, ele conheceu Boa morte, que recebeu este codinome porque o tiraram das minas quase morto três vezes: A primeira com os pelos chamuscados, a segunda com a garganta cheia de terra e a terceira com a barriga inchada de água. Como ele se recusava a morrer, chamaram-no de Boa morte.
                   Etiénne era um jovem maquinista nas linhas de ferro de Lille. Ele buscava por fábricas em Marchiennes, e Boa morte lhe disse que as fábricas e oficinas fechavam uma após as outras. Também lhe diz que a açucareira Voton e a Cristalaria Garbois incitavam greves por baixa de salários, mas a Voreux funcionava normalmente, mesmo que eles não comessem carne todos os dias.
Durante a conversa entre eles, Boa morte regurgitou carvão, o que mostrou as péssimas condições de trabalho. Ele trabalhava nas minas de carvão há 50 anos, iniciando aos 8 anos de idade. O rapaz percebeu as péssimas condições e que aquele era um trabalho cansativo, os mineiros trabalhavam por cada cêntimo que recebiam. Mesmo assim ele procurava por trabalho, pois estava passando fome. Após conhecer Maheu, filho de Boa morte, que ele conseguiu um emprego. Ele substitui Fleurence que morreu com problemas no coração. O salário era de 30 cêntimos hora/dia, a única proteção que tinham era um capacete. Para escavar, os mineiros tinham que ajoelhar-se e a temperatura ultrapassava 30 °C. Os mineiros tinham uma lâmpada que era como um Sol, pois indicava quando estavam escavando áreas com grisu - uma mistura de gás metano encontrado nas minas de carvão -, e poderia ser muito perigoso.
Para evitar desmoronamentos, os trabalhadores faziam escoras, que diversas vezes não eram bem-feitas. O patrão aplicava-lhes multas diárias de três francos quando as escoras não estavam colocadas do modo como ele queria.  O baixo salário com os descontos das multas, não permitia que as famílias tivessem o que comer até o fim do mês, o que fazia com que devessem a um comerciante local chamado Maigrat.
Toda a família de Maheu trabalhava nas minas, exceto os dois filhos menores e sua esposa, que pediam esmolas na casa dos Gregóire. Enquanto os mineiros morriam de fome, os burgueses tinham comida farta em suas mesas. Cécile Grégoire percebia a necessidade da família de Maheu e sempre fazia doações de roupas quando eles pediam esmolas. No momento em que Maheude pediu roupas, ela também mendingou dois francos, pois não tinha o que comer em casa, e com o coração endurecido, Léon disse que não era seu costume, e que eles deveriam poupar como faziam os camponeses. Os Grégoire assustaram-se quando souberam que Maheud tinha sete filhos. Na concepção dela, quanto mais filhos tivesse, mas inquilinos teriam dentro de casa para auxiliar no sustento. Cécile cortou metade de seu pão e entregou a Henri e Leonore, quando viu que eles estavam como fome. Mesmo com a necessidade de Maheude e seus filhos, eles não doaram os francos, e disseram que já forneciam casa e aquecimento e que já era o bastante. Os trabalhadores pagavam seis francos de aluguel e recebiam carvão para aquecimento.
Saindo da casa dos Gregóire com fome, Maheude foi até a mercearia de Maigrat pedir que lhe fiasse alimentos, mesmo devendo sessenta francos. Ela pediu pães, e em troca deixaria as roupas que conseguiu nas doações. No entanto, Maigrat não queria roupas. Ele daria manteiga e café se em troca Catherine tivesse relações sexuais com ele. Uma troca de favores!
O pensamento revolucionário de Etiénne inicia-se na Taverna de Rasseneur. Ambos conheciam Pluchart, que dizia que algo deveria ser feito, que os donos deveriam pagar melhor pelas escoras. Em seguida, Rasseneur comentou sobre a Associação dos Trabalhadores em Paris, que segundo Pluchat cada vez havia mais afiliados e que “pela primeira vez, os trabalhadores do mundo se unirão para lutar de igual para igual contra os patrões”.
Suvarin, russo também empregado das minas, em tom arrogante disse a Rasseneur e Etiénne:
— O vosso Karl Marx continua a acreditar na evolução das forças naturais querendo negociar cara a cara para obter aumento de salário. É preciso deitar fogo a todas as cidades, arrasar tudo, e quando já não restar nada neste mundo podre, talvez cresça outro melhor.
Logo em seguida Etienne respondeu:
— Não chegaremos a esse extremo. O operário sozinho não é ninguém, mas unido representa uma grande força. Temos que criar uma secção em Montsou. (...) É preciso reconstruir um mundo novo muito mais justo.
Suvarin rebateu:
— Aumentar os salários numa economia capitalista é um sonho. Os operários só têm direito a comer pão duro e a ter filhos. É uma lei férrea que se baseia no equilíbrio dos ventres vazios. É uma condenação à prisão perpétua de fome e misériaÉ preciso destruir tudo. Sim, a anarquia e mais nada. A terra lavada pelo sangue, purificada pelo fogo. Depois veremos.
Etienne concluiu:
— É preciso evitar um derramamento de sangue.
Para ele, era preciso se organizar e criar uma caixa de resistência, que serviria de sustento durante as greves. Cada operário deveria pagar vinte cêntimos por mês, pois pouco a pouco economizariam e o dinheiro os fortaleceria, mesmo que a greve durasse meses. Tentava convencer os operários a contribuírem com o fundo.
— Se todos os operários estão juntos, por que é que hão de ser escravos dos patrões que lhes pagam? Não necessitamos de deus nem do paraíso para sermos felizes. Depende de nós que este mundo podre mude, e que a paz reine sobre a terra. A igualdade.
— Ilusões! Por acaso os burgueses quererão trabalhar tanto como nós? (Questiona Maheude)
— Eles terão que encontrar a razão, cada um segundo seus méritos e sua fome.
Um dos mineiros, Chaval, rebateu:
— Com a razão não iremos à parte nenhuma. Nem com as palavras. Será com o sangue. Para que as coisas mudem há que se derramar sangue.
Por fim, Etienne concluiu:
— A nossa força é o número. Diante da ira dos operários, os patrões claudicarão. Tardaremos mais, mas é preciso evitar juntar sangue ao sofrimento.
Em uma festa local, Zacharie, filho de Maheu comprometeu-se em casamento com uma mineira que estava grávida, fazendo com que a família perdesse mais um provedor. Por este motivo, Etiénne foi convidado para hospedar-se em sua casa, afim de dividir as despesas. Desta forma, Etienne passou a morar junto com a família de Maheu, perto de sua amada Catherine.
No dia seguinte, um desmoronamento nas minas feriu as pernas de Jeanlin, filho de Maheu, e o impediu de trabalhar, fazendo com que a família diminuísse o seu salário. Paul, sobrinho do diretor Hennebeau, vendo as escoras mal colocadas reclamou e disse que se quisessem ir para as greves poderiam ir, mas por que antes de ir as greves não se obrigavam a escorar melhor. Irritado indagou retoricamente que quem pagaria pelas escoras seria a companhia e que o Sr Hennebeau ficaria contente.
                   Os Maheu não tinham mais o auxílio de Zacharie (que se casou), Jeanlin (que estava ferido), e Catherine (pois, Chaval, um mineiro, a obrigou se casar com ele). A família tinha nove membros com salário de três. Maheude se irritou com sua filha, pois ela se casou apenas quando estava gravida, e mesmo casada, nunca abandonou seus pais e não deixava de lhes entregar o seu salário, diferente de Catherine.
Após o desmoronamento na Mina Voreux, por conta das escoras, os patrões resolveram não mais aplicar multas aos trabalhadores, mas reduzir o preço da vagoneta de carvão e pagar as escoras à parte. As vagonetas passaram a valer de cinquenta para quarenta cêntimos segundo a natureza do filão e a distância. O novo modelo de cálculo seria aplicado no dia primeiro de outubro. Esta nova tarifa fez com que os trabalhadores ficassem revoltados, pois perceberam que esta medida não passou de pretexto para baixar os seus salários. Assim, reunidos mais uma vez no bar do Rasseneur eles discutiram:
— Creio que quiseram nos incitar a greve!
Sem pestanejar, Suvarin respondeu:
— Com certeza. É fácil de prever. Vão forçar-nos. A crise piora com todas as fábricas que estão a fechar, e cada vez falta menos carvão. A direção quer reduzir gastos, vão reduzir os salários, e serão os operários os que terão que apertar o cinto. Há dois meses que a hulha se amontoa na mina. Uma boa greve era uma maravilha para eles. Esgotam-se as reservas, mandam parar os mineiros, e os outros, uma vez domados, pagam-lhes menos. Além do mais, já sabem da caixa de resistência. Não dizem nada, mas os afetam. Durante a greve se esvaziará, antes de estar demasiado cheia.
Rasseneur, em poucas palavras argumentou:
— Nem a companhia nem os operários têm interesse em que haja uma greve. É preciso chegar a um acordo. (...) Esta greve é uma asneira.
Etienne, um pouco confuso, indagou:
— Não te compreendo. Ontem querias queimar tudo e hoje estás contra?
Rasseneur explicou:
— É demasiado rápido. Numa greve o operário sofre tanto como o patrão. (...) É preciso aproveitar o momento para filiar todos os mineiros da região na Associação Internacional dos Trabalhadores. (...) Agora é o momento. Quanto mais difícil for a situação, mais decididos estarão a seguir-nos, e quando os trabalhadores do mundo inteiro o compreender, quando todos dermos as mãos, então poderemos atuar, e não será necessária a greve.
Suvarin, após uma risada incontrolável, disse:
— Palermices! Ainda não chegou o dia em que os irmãos de todos os países nos possam ajudar.
Maheu perguntou:
— E se nos obrigam a ir para a greve?
Suvarin respondeu:
— Se os diverte. Arruinarão a uns e matarão os outros. Algo teremos conseguido. Contudo, dessa forma levareis mil anos a renovar o mundo. Seria melhor começar por destruir esta prisão.
No dia do recebimento dos salários, Maheu recebeu vinte francos a menos, por multas de escoramentos defeituosos. Ele pensou em protestar, mas não teve coragem e calou-se. Alguns minutos depois, o secretário-geral solicitou a sua presença em seu escritório. Ele informou que a pensão de seu pai, Boa morte, havia sido revista, porque ele tinha cinquenta e oito anos e apenas cinquenta anos trabalhados. Logo, ele teria cento e cinquenta francos de pensão. Maheu questionou, pois dentro de dois anos, seu pai receberia cento e oitenta francos. Em forma de sermão, o secretário o aconselhou a não interferir na política, que ele era um bom trabalhador e que deixasse que outros o fizessem, pois poderia vir a se lamentar.
Com tantas injustiças, Etiénne convocou os trabalhadores para iniciar a greve:
— De quarenta para cinquenta cêntimos a menos por vagonetas é uma vergonha. Se a companhia quer a greve, vai tê-la.
Pela manhã, Dansaert chegou à casa do Diretor Hennebeau avisando que a greve havia começado, porque ninguém tinha ido trabalhar.
— Ontem quando cobraram, não houve menor reclamação. Pensamos que haviam aceito as tarifas. Diz Dansaert.
O diretor preocupou-se, e pediu a Dansaert que fosse a Vitorie e em Feutry-Cantel e ao sobrinho, Paul, que fosse a Mirou e Crève-Colur e a também a Saint-Thomas, para averiguar as proporções que a greve havia tomado. Porque nesse caso, seria uma declaração de guerra.
Mesmo com as manifestações, a Madame Henneabeu não cancelou o jantar de casamento de seu sobrinho com Cécile. No Jantar, ela disse com tom risonho, que gostaria de servir ostras, mas elas eram trazidas às segundas-feiras de Ostende a Marchiennes. Afirmou que sua empregada poderia ir buscar, mas teve medo que a apredrejassem. Ela não se importou com a situação dos trabalhadores.
No jantar, Léon Gregorie e Hennebeau conversaram sobre a situação das fábricas que estavam fechando:
— Era previsível. A excessiva prosperidade destes últimos anos tinha que nos conduzir a isto. Pensem nos enormes capitais que estão imobilizados nas linhas de ferro, nos portos e nos canais. Comenta, o Henneabeu.
— Quando a América nos deixou de pedir ferro e bronze deu-se um golpe muito duro nos nossos altos-fornos. Diz Léon.
— E desde que as nossas fábricas fecham uma atrás da outra nos custa uma barbaridade desfazendo-nos daquilo que temos. E se quisermos continuar a vender, apesar da competência, não temos outro remédio senão baixar os custos e é isso o que os operários não querem entender.
— E o pior é que para baixar os custos, teríamos que produzir mais. Mas como vendemos cada vez menos, não temos outro remédio a não ser baixar os salários e claro quem sai perdendo são os operários.
Madame Hennebeau, com insensibilidade comentou:
— Postos a perder, nós perdemos mais!
A cozinheira da família Hennebeau interrompeu o jantar avisando que o Sr. Dansaert estava na saleta. Ele tinha notícias sobre a greve e afirmou que estava tudo tranquilo nas outras minas, mas que uma delegação estaria por vir. Dansaert entregou uma carta de Pieron, um dos melhores capatazes, que dizia que ele estava obrigado a entrar na greve por medo dos companheiros lhe causarem algum dano, mesmo que não concordasse com a mesma. Na carta, ele disse quais eram os membros da delegação.
O diretor recebeu a delegação, que tinha como líderes Etiénne e Maheu. O diretor estava disposto a conversar com eles, mesmo que tivessem se rebelado.
Maheu deu um passo à frente, e o diretor surpreendeu-se, porque ele era o melhor funcionário de Voreux e um veterano em Montsou.
— Senhor diretor, é porque sou um homem tranquilo que não tem nada a reprovar, é que os meus companheiros me escolheram.
— Estou te escutando.
— Só queremos justiça, estamos fartos de morrer de fome. Está na hora de comer pão todos os dias. O senhor sabe que não podemos aceitar o novo sistema de pagamento. Culpam-nos de escorar mal? Certamente dedicamo-nos a esse trabalho as horas necessárias. Paguem-nos mais e escoraremos melhor, dedicaremos mais tempo à madeira em vez de nos empenharmos em retirar o carvão. O trabalho bem feito tem que ser pago. Baixam os preços da vagoneta e pretendem compensá-lo pagando o escoramento a parte. Não pode ser. Ficamos perdendo. A companhia embolsa mais dois cêntimos por vagoneta. Essa é a verdade”
— Isso não está certo.
— É a verdade
Todos na sala começaram a resmungar, e o diretor irritado, levantou-se da cadeira e disse que se todos falassem juntos não iriam se entender. E com tom arrogante, completou:
— Não, a verdade é que vocês fazem caso de provocações mesquinhas. Essa é uma peste que corre entre os operários e corrompe até os mais velhos. Prometeram a vocês mais manteiga que pão, disseram a vocês que agora seriam patrões, enrolaram vocês com essa internacional. Esse exército de bandidos que pensam em destruir a sociedade.
Etiénne deu um passo à frente e com o peito estufado disse:
— Engana-se. Nem um só mineiro se filiou, mas se nos obrigam, todos se filiarão. Isso depende da companhia.
O diretor respondeu a Etiénne:
— A companhia é uma salvação para os homens, é um erro fazer com que corra perigo. Este ano gastou com a construção de colônias que não rendem nem dois por cento, para não falar das pensões que paga, nem do carvão, nem dos medicamentos que dá. Você parece inteligente, dedica-se a difundir estas verdades em vez de misturar com tipos como o Rasseneur se você quer salvar as minas da podridão Socialista. Vê-se frequentemente em sua casa. Foi Rasseneur que te empurrou para criar este fundo de previsão? Se fosse um fundo de poupança e não uma arma de guerra contra nós, não reprovaríamos a sua existência. Aviso que a companhia pretende controlar cuidadosamente esse fundo.
Etiénne argumentou que não tinham reclamado do controle da caixa de resistência, mas que o desejo era que a companhia deixasse de rogar a sua salvadora e que fosse dado o que os pertencia, que repartissem os lucros. Que não é normal matar os operários de fome para salvar os dividendos de acionistas anônimos. “Se a companhia quer lucrar, que o faça, mas não às custas dos trabalhadores. “ Os trabalhadores não queriam tomar a riqueza da Burguesia, apenas não queriam morrer de fome.
O diretor Hennebeau afirmou que esperava que os acusasse de matar a aldeia de fome e de viver do seu esforço, mas não esperava que dissessem tantas asneiras quando se conhece os riscos que correm, os capitais investidos nas indústrias ou nas minas.
— Uma mina equipada custa atualmente um milhão e meio ou dois milhões de francos. Sabe o que custa tirar um benefício medíocre dessa quantidade investida? Não se deram conta de quantas mineiras da França estão falindo? Sim, quando os operários sofrem, elas sofrem também. A companhia tem tanto a perder quanto vocês com esta crise. Ela não é dona dos salários, tem que ser competitiva para não arruinar. Atribui a culpa aos fatos e não a companhia. Mas não querem acreditar, não querem entender.
— Querem nos fazer crer que a nossa situação não pode melhorar, mas comem biscoitos todos os dias. Algum dia os operários conseguirão que haja pão todos os dias! Exclamou Etiénne.
Henneabeu nada podia fazer, pois ele recebia um salário como todos os grevistas, e esta era a única resposta que ele poderia dar. No entanto, para tentar impedir a greve, ele fez chantagem emocional com o Maheu, indagando se seu filho estava melhor, recebendo como resposta que conseguiram salvar-lhe a perna.
— Foi uma dura lição, mas continuam a defender os maus escoramentos. Reflitam amigos. Uma greve é um desastre para todos. Vocês morrerão de fome antes de uma semana, que farão? Estou convencido que na segunda-feira, o mais tardar voltarão ao trabalho.
As minas estavam vazias, sem movimentação. Os trabalhadores se sustentavam com a caixa de resistência. Vendo a situação de sua família, Catherine, que havia se casado forçadamente com Chaval e estava trabalhando em Jean-Bart, levou comida para seus irmãos menores. Maheude brigou com sua filha e disse que enquanto os de Voreux morriam de fome fazendo greve, os de Jean-Bart continuavam a trabalhar. Catherine apressadamente disse que o seu marido a obrigava, e que não tinha outro remédio a não ser obedecê-lo. Chaval, agressivamente, empurrou a porta, xingando Catherine, pois estava dando café para a família com seu dinheiro. Naquele momento, Etiénne prometeu que um dia o mataria.
Em clima de greve, as mulheres foram a Maigrat afim de pedi-lhe que fie mais uma vez, mas ele lhes diz que não fiará nem uma batata se quer, nem um naco de pão. Ele daria apenas em troca de favores sexuais. As mulheres disseram que não sairiam, pois seus filhos sentiam fome. Maigrat as coloca para fora aos pontapés. Maheud vai em direção a um padre e diz com tom de desespero: “Necessitamos de pão. As crianças só comem isso. Necessitamos para as crianças.” No entanto, o clero não a escuta, mostrando a indiferença da igreja.
Na noite do mesmo dia, Etiénne reuniu seus companheiros para dizer que havia um mês que eles sofriam em vão, e que não eram covardes para voltar as minas com a cabeça baixa para que a eterna miséria começasse novamente. Que mais valia morrer agora mesmo tentando destruir a tirania do capital que morrerem de fome. Que não podia aceitar a tarifa de escoramento, e que não tinham que aguentar as calamidades da crise. “Não somos responsáveis de que a competição baixe os custos. Não é justo. E se nos obrigam, temos que fazer justiça”.
— Justiça, justiça!! Gritam os trabalhadores.
Maheud se aproximou de Etiénne no ponto mais alto, e disse:
— A partir de amanhã, iremos para as minas e cuidaremos dos traidores que estão trabalhando. É preciso demonstrar à companhia que estamos todos de acordo e que preferimos morrer a ceder. E se houver denunciantes entre nós companheiros, que tenham cuidado, porque os conhecemos. Vieram mineiros de Jean-Bart que continuam a trabalhar.
Maheu disse que os que comem não podem se misturar com os que passam fome a Chaval.
— Trabalhar é um crime, por acaso? Diz Chaval.
— Sim, é crime. Quando os companheiros morrem de fome por todos. É proibido ser egoísta com a barriga cheia. Se a greve fosse geral, há muito tempo que teríamos ganho. Em Jean- Bart há traidores.”
                   Chaval interrompeu os gritos dos operários e afirmou que Jean-Bart o enviou para que dissesse que lá ninguém mais trabalharia. “Há que se parar os fogos. Parem as bombas de água. Todos os maquinistas têm que ir para a greve. A água encherá as minas e tudo será destruído. Venha amanhã a Jean-Bart e verão se trabalhamos.
Na manhã de trabalho do dia seguinte, Deunelin recebeu a notícia que metade dos homens de Jean-Bart se recusou a trabalhar e impediam os outros de descerem. Em Jean-Bart os escoramentos não haviam sido questionados como em Montsou. Mesmo assim, chaval reuniu seus companheiros de trabalho afirmando que não podiam trabalhar enquanto os de Montsou morriam de fome e queriam cinco cêntimos de aumento por vagoneta, pois não dava para trabalhar dignamente com tantos protestos.
Deunelin disse que sabe que o trabalho vale, mas se ele desse o aumento era um homem morto. Ele estava só, não tinha acionistas que dessem segurança pagando a uns diretores para que sobrecarregassem os mineiros servindo a um patrão que nunca verão. Ele não podia dar aumento e também não podia deixar que fossem a greve, se não iria à falência. Ele estava endividado com a modernização das máquinas.
 Em uma conversa particular em seu escritório, Deunelin prometeu a Chaval um cargo de capataz, se ele deixasse de lado a greve e incentivasse o mesmo aos seus colegas. Ele aceitou o cargo e voltou a trabalhar e disse aos companheiros que a greve não os interessava, que se Jean- Bart falisse, aconteceria o pior.
Os operários se dividiram. Uns aderiram à greve, outros não! Revoltados, os trabalhadores de Montsou se direcionaram a Jean-bart a fim de atacá-los e impedir que trabalhassem. Gritaram “Greve”! Quebraram as bombas, as lâmpadas, derrubaram os vagões! Destruíram e atearam fogo em tudo! Destruíram as máquinas! Os que desceram as minas subiram pelas escadas porque os de Voreux haviam cortado os cabos. Ao chegar na superfície, os grevistas os agrediram com tapas e xingamentos como Traidores, Escória. Etienne tentou matar chaval, mas foi impedido aos gritos por Catherine. Para atender o pedido de sua amada, eles seguiram caminho à Mirou. Chegando lá, os grevistas atacaram Maigrat, pois queriam pão. Quebraram as portas com machadadas e com medo, Maigrat tentou fugir pela janela. Maheude o avistou e chamou a atenção das mulheres. Assustado, ele caiu do telhado e não sobreviveu. Maheude encheu a boca dele de terra, falando que estava alimentando seu cadáver. As grevistas tiraram suas calças e cortaram suas partes intimas e disseram: “Já não é mais um homem”. Tanto Maheu quando Etiénne ficaram assustados com o que elas fizeram. Afim de evitar que fossem presos, Catherine chegou avisando que os guardas estavam vindo. Com isso, os grevistas se dispersaram.
As minas estavam destruídas. O caos se instaurou. Os guardas procuravam por Etiénne que estava escondido em uma mina abandonada onde Jeanlin guardava os pertences que roubava. Para Etiénne, mesmo que a companhia perdesse milhões, eles recuperariam tudo as custas dos trabalhadores. A companhia havia trazido guardas da Bélgica para proteção das bombas,
Com a falta de carvão para aquecimento, Alziro, filho de Maheu, ficou doente, e faleceu não aguentando à espera do médico, que atendia a outros pacientes. Mesmo com a morte de seu filho, e com a imigração dos Belgas, Maheude não desistiu da greve, mesmo que os outros estivessem enfraquecidos. Para ela, tudo deveria ser queimado.
Etiénne com todo o cuidado para não ser preso pelos guardas, foi visitar Rassenur na Taverna. Os trabalhadores já estavam há dias na greve, sem terem conseguido resultados satisfatórios. Conseguiram apenas a fome e o sofrimento. Ele disse a Rassenur:
— É preciso chegar a um acordo com a companhia.
Rasseneur respondeu:
— Eu tinha razão!
Etienne reafirmou
— Sei também como tu que a greve se acabou.
Rasseneur perguntou:
— Então, se acreditas que perdeste, por que não chamas a razão os teus companheiros?
Etienne explicou:
— Cada um tem as suas ideias. Eu continuo a pensar que com um pouco mais de sacrifício, nossos corpos famintos servirão melhor a causa, mais do que toda a tua política de homem sábio.
Mais uma vez, com ironia, Suvarin interferiu na conversa para dar uma notícia sobre dois operários de Marselha que ganharam na loteria cem mil Francos e disseram que iam comprar ações e viver dos rendimentos. Com isso ele disse:
— Ora, aí está! É essa a ideia que tendes dos operários franceses? Desenterrar um tesouro para comer. Falta-vos valor para devolver aos pobres o dinheiro que a sorte os enviou. Nunca sereis dignos de ser feliz, a não ser que tenhais alguma coisa que vos pertença. Gritais contra os ricos, mas continuais pobres. Contudo, o ódio contra os burgueses vem somente da inveja de não ser burgueses como eles. Espero o dia em que estejais sem nada, pisados e atirados para o chiqueiro. Alguém virá para aniquilar a raça dos egoístas. Olhai, meus irmãos, se as minhas mãos pudessem, pegariam na terra assim, e a sacudiria para que ficásseis debaixo dos escombros.
Chaval entrou na Taverna com Catherine e provocando a todos os grevistas que estavam no local, disse em tom alto:
— Que se danem todos os cornos que não querem trabalhar..... Deixei a empresa de Deneulin, amanhã desço a Voreux com doze Belgas.
Eiténne aceitou as provocações e deu-lhe um murro no rosto, saindo da Taverna aos tapas com Chaval, que iria mata-lo, sendo impedido por Catherine aos gritos. Por ter defendido, Etiénne, ela foi expulsa de casa.
 Os grevistas seguiram em direção a Voreux na manhã seguinte, mesmo com a formação em duas filas dos soldados contratados pela companhia. Os soldados pediam para que eles se afastassem, para que não fossem obrigados a cumprir com o dever, no entanto, os grevistas avançaram lentamente aumentando seus passos a cada grito. Os soldados prepararam as armas! Com a chegada de Paul, os trabalhadores começaram a atirar pedras. Encurralados, o comandante ordenou que atirassem! Maheu foi acertado com um tiro no peito! Outros grevistas também foram assassinados! Com a matança, o silêncio imperou e os soldados tocaram as trombetas.
Enquanto os operários sofriam as perdas, os Gregórie comemoravam o casamento de Cécile e Paul. Henneabeu disse no meio do jantar, que a partir daquele momento os salários deveriam ser estudados com prudência.
A greve foi enfraquecida com a morte de Maheu. Todos pretendiam trabalhar, menos Maheude, que dizia que preferia vê todos no buraco, porque perdeu seu filho e seu marido. Catherine disse a ela que a companhia prometeu Cartel e voltaria a trabalhar, lembrando que a casa era alugada e que nada poderia ser feito. Os operários culpavam a Etienné pelas perdas e cuspiam em seu rosto. De madrugada, ele escreveu uma carta que dizia: “A velha sociedade já não existirá. Nascerá um novo mundo, mas não desaparecerão as desigualdades. Continuará a haver pessoas mais inteligentes que outras que viverão às custas dos mais fracos. Isso não tem solução”.
Catherine o interrompeu e disse que voltaria a trabalhar nas minas. E que se sua mãe não aceitasse o dinheiro, iria voltar para Chaval. Então, Etiénne olhou em seus olhos e afirmou que também voltará a trabalhar.
Suvarin, não satisfeito com o fracasso das greves, danificou a bomba de água para que as minas fossem arruinadas. Para ele, tudo deveria ser destruído. O trabalho havia iniciado, e Catherine correu em direção aos companheiros que estavam nas minas e disse que não havia outros trabalhadores, que todos haviam desaparecidos. Nequele momento, as bombas se romperam e a jaula foi totalmente destruída, impedindo que os mineiros subissem até a superfície. Eles ficaram desesperados, sem saída. Até que um dos mineiros se lembrou que havia uma saída pela velha mina de Réquillart. Chaval seguiu por outra direção. Enquanto caminhava em direção a antiga mina, um novo desmoronamento sucedeu, formando uma parede de pedras, deixando Etiénne e Catherine encurralados. Sem saída, eles tentaram escapar pelas chaminés, no entanto, a passagem por lá também estava impedida. Paul desceu as minas e verificou que tudo estava destruído, e tinha certeza que era um atentado.
Os mineiros que foram em direção a Réquillart foram salvos. Tentando encontrar uma saída, Chaval encontra-se com Catherine e Etiénne. Ao tentar abusar de sua ex-esposa, Chaval foi assassinado com uma pedrada na cabeça dada por Etiénne, que cumpriu sua promessa. Ele e Catherine confessaram que se amavam e que queriam ficar juntos, porém, ele ficou sem sua amada, que faleceu com fome e frio.
Zacharie escutou alguém batendo nas pedras e atribui isso à sua irmã. Ele tentou escavar com sua lâmpada na mão. O fogo junto com o grisu provocou uma grande explosão. Zacharie morreu deixando sua esposa grávida!
Por caridade, a família Gregóire foram à casa de Maheude doar roupas e alimentos, porém ela estava em Réquillart e apenas Boa Morte encontrava-se em casa. A vizinha abriu a porta para que eles deixassem as doações. Por causa da doença de Boa Morte, o Sr e a Sra Gregóire foram para o carro, enquanto Cécile entregava-lhe a comida com todo o carinho e solidariedade que esta jovem possuía.
Boa morte se aproximou de Cécile e com um toque de suspense a estrangulou com as próprias mãos. Ele representou o operariado e ela a burguesia. Uma verdadeira luta de classes.
Etiénne foi resgatado da mina. Maheude perdeu seu marido, Zacharie, Catherine e Alziro -perdeu a pele com a greve. Como precisava alimentar o avô e as crianças, ela voltou a trabalhar. Maheude não mais culpava a Etiénne pelas perdas, nem mesmo os operários. Todos eram culpados. Jeanlin retornou ao trabalho, e ganhava vinte cêntimos, que juntamente com os trinta de sua mãe formavam cinquenta cêntimos. Eram apenas dois trabalhando dentro de casa. Faltavam seis anos para que Leonore e Henri pudessem descer as minas.
  Diante de tudo, Etiénne seguiu seus sonhos e foi em direção a Paris, pensando em um mundo mais justo.
— A sua razão amadurecia, deixara de lado o rancor. Sim, já dizia Maheude com seu extraordinário bom senso, seria um bom golpe, agrupar-se tranquilamente, conhecer-se, criar sindicatos, quando as leis o permitirem e no dia em que milhões de trabalhadores se enfrentarão com milhares de revolucionários, tomar o poder, acabar com os patrões. Que amanhecer de verdade e justiça! Agora, no céu, o Sol de abril brilhava com esplendor e aquecia a terra que dava fruto. Por todos os lados, os grãos inchavam, cresciam, quebravam a casca, necessitando de calor e de luz. A profecia serva fluía, num murmúrio, o ruído da semente se dava num beijo. Cada vez com mais força, como se estivessem mais perto da terra, os companheiros batiam. Por baixo dos ardentes raios do Sol, nesta manhã juvenil, era desse rumo que a Terra estava necessitada. Os homens cresciam, um negro exército vingador brotava lentamente nos sulcos e frutificava para ser recolhido nos séculos vindouros e aquela germinação depressa irá arrebentar na Terra.
Teses

Com a crise econômica provocada pela Revolução Industrial, os detentores do Capital visavam a competição afim de obter lucro, porque com a modernização das máquinas fazia com que as indústrias recém-formadas e as minas de carvão, que era uma das formas de obter energia térmica, exigissem dos operários maior esforço no trabalho que não era remunerado como deveria ser, o que Karl Marx (1867) chama de mais-valia. Esses trabalhadores eram submetidos a condições precárias, sem o menor tipo de proteção, e mesmo com o salário baixo, eram obrigados a pagar multas a companhia quando ocorria algum acidente. Podemos notar, como tese, as desigualdades sociais, a luta de classe, a exploração do trabalho infantil, as greves, o surgimento do sindicato, mas principalmente o conflito entre capital-trabalho.
Germinal refere-se ao processo de germinação e maturação dos movimentos sindicais. No final do filme, verificamos como tese o surgimento de uma nova consciência por parte do trabalhador. Que não mais precisava destruir as fábricas e as minas, mas ter o apoio da lei, quando assim fosse permitido.

Frases e/ou cenas de relevo que expliquem a(s) teses (s)

Trabalho Infantil
Nas minas o trabalho era iniciado aos oito anos de idade. Boa morte quando encontrou Etiénne pela primeira vez, lhe disse que trabalhava nas minas há cinquenta ano, iniciando sua profissão na segunda infância.
“Durante a conversa entre eles, Boa morte regurgitou carvão, o que mostrou as péssimas condições de trabalho. Ele trabalhava nas minas de carvão há 50 anos, iniciando aos 8 anos de idade”.

Fome
Esta cena representa a delegação de Maheu em relação à greve. Ele conversou com o Diretor Hennebeau. Nota-se que os operários não comiam pão todos os dias e estavam fartos de morrer de fome.
“— Só queremos justiça, estamos fartos de morrer de fome. Está na hora de comer pão todos os dias. O senhor sabe que não podemos aceitar o novo sistema de pagamento. Culpam-nos de escorar mal? Certamente dedicamo-nos a esse trabalho as horas necessárias. Paguem-nos mais e escoraremos melhor, dedicaremos mais tempo à madeira em vez de nos empenharmos em retirar o carvão. O trabalho bem feito tem que ser pago. Baixam os preços da vagoneta e pretendem compensá-lo pagando o escoramento a parte. Não pode ser. Ficamos perdendo. A companhia embolsa mais dois cêntimos por vagoneta. Essa é a verdade”

Greves
Com a redução de salários, Etiénne decidiu iniciar a greve em união com os seus companheiros. Ele resumiu sua fala em: “Se a companhia quer a greve, vai tê-la”
Com tantas injustiças, Etiénne convoca os trabalhadores para iniciar a greve:
—  De quarenta para cinquenta cêntimos a menos por vagonetas é uma vergonha. Se a companhia quer a greve, vai tê-la.
Pela manhã, Dansaert chega a casa do Diretor Hennebeau avisando que a greve havia começado, porque ninguém foi trabalhar.

Capitalismo / Socialismo
Esta cena representa a continuação da reunião entre o Diretor, Maheu e seus companheiros. O socialismo e capitalismo são representados pela fala do diretor, que pretende convencer aos seus operários de desistirem da greve, de não se filiarem a Internacional, afirmando que o Socialismo queria destruir as minas com suas promessas sem fundamentos. Em contrapartida ao Socialismo, ele diz que uma máquina equipada custa um milhão e meio ou dois milhões de francos. E que ela não é dona dos salários e a competição era necessária para não haver falência.
“— A companhia é uma salvação para os homens, é um erro fazer com que corra perigo. Este ano gastou com a construção de colônias que não rendem nem dois por cento, para não falar das pensões que paga, nem do carvão, nem dos medicamentos que dá. Você parece inteligente, dedica-se a difundir estas verdades em vez de misturar com tipos como o Rasseneur se você quer salvar as minas da podridão Socialista. Vê-se frequentemente em sua casa. Foi Rasseneur que te empurrou para criar este fundo de previsão? Se fosse um fundo de poupança e não uma arma de guerra contra nós, não reprovaríamos a sua existência. Aviso que a companhia pretende controlar cuidadosamente esse fundo.

“—Uma mina equipada custa atualmente um milhão e meio ou dois milhões de francos. Sabe o que custa tirar um benefício medíocre dessa quantidade investida? Não se deram conta de quantas mineiras da França estão falindo? Sim, quando os operários sofrem, elas sofrem também. A companhia tem tanto a perder quanto vocês com esta crise. Ela não é dona dos salários, tem que ser competitiva para não arruinar. Atribui a culpa aos fatos e não a companhia. Mas não querem acreditar, não querem entender.”


Anarquismo
Em uma conversa na Taverna entre Rassenur, Etiénne e Suvarin, o último demonstrou pensamentos anarquistas em relação a luta contra a burguesia. Ele resumiu em: “Sim, a anarquia e mais nada”
O vosso Karl Marx continua a acreditar na evolução das forças naturais querendo negociar cara a cara para obter aumento de salário. É preciso deitar fogo a todas as cidades, arrasar tudo, e quando já não restar nada neste mundo podre, talvez cresça outro melhor.”

“— Aumentar os salários numa economia capitalista é um sonho. Os operários só têm direito a comer pão duro e a ter filhos. É uma lei férrea que se baseia no equilíbrio dos ventres vazios. É uma condenação a prisão perpétua de fome e miséria. É preciso destruir tudo. Sim, a anarquia e mais nada. A terra lavada pelo sangue, purificada pelo fogo. Depois veremos.”

Luta de Classes
A principal cena que demonstra a luta de classes é o assassinato de Cécile, quando ela, por caridade fez doações de roupas. Cécile foi estrangulada por Boa morte, que já não estava bem da cabeça. Boa morte representou o operariado, Cécile a burguesia.
Análise Sociológica
                   Os atores sociais da sociedade demonstrada no filme Germinal são o operário e o burguês. Os valores religiosos da sociedade feudal foram substituídos pelos valores do capital. As condições de trabalho eram péssimas e o que importava era a produção. As fábricas e minas estavam fechando devido à forte crise econômica, e os empresários para aproveitar ao máximo o uso da máquina exploravam os trabalhadores, que tinha uma jornada de quinze horas de trabalho por dia e com um salário de trinta cêntimos hora/dia. As mulheres daquela sociedade tinham filhos com o intuito de auxiliarem no sustento da família. A burguesia não tinha mais que dois filhos, enquanto o operário tinha mais de seis.
                   O mundo descobriu a eficiência do carvão. Com isso o novo modelo de empresa - a fábrica, que necessitava do carvão, fazia com que o trabalho fosse redobrado nas minas. Para evitar erros no processo de trabalho, o patrão aplicava multas altas que prejudicava no sustento das famílias dos operários porque o salário já era baixo. Os trabalhadores eram submetidos a condições sub-humanas em oposição a burguesia que enriquecia a cada dia. Segundo Karl Marx (1848, P. 7), “ a história de todas as sociedades que existiram até os nossos dias tem sido a história da luta de classes”. De acordo com ele, a sociedade burguesa criou novas classes, novas formas de opressão e como consequência, novas formas lutas, ao invés de derrubar os antagonismos de classes. Esses antagonismos, no entanto, foram simplificados em Burguesia e Proletariado. Com o desenvolvimento do capital, desenvolve-se também o proletariado, que são tratados como mercadoria, pois só podem viver se encontrarem trabalho na medida em que o capital aumentasse.
                   Em Londres haviam fundado a Associação dos Trabalhadores, chamada também de Primeira Internacional, com o objetivo de lutar pelo trabalhador. Em 1871, a Associação Operária Internacional baseou-se nos Estatutos escritos por Marx em 1864, por ocasião da fundação da Primeira Internacional. Um dos principais pontos expressos no Estatuto escrito por Marx é

“que a emancipação da classe trabalhadora deverá ser conquistadas pelas próprias classes trabalhadoras; que a luta pela emancipação das classes trabalhadoras não significa uma luta por privilégios e monopólio de classes, e sim uma luta por direitos e deveres iguais, bem como a abolição de todo domínio de classes.” (1864, P. 107)

                   O filme Germinal refere-se a um processo de maturação das greves trabalhistas e o surgimento do sindicato. Podemos notar três tipos de operários na greve: Um socialista utópico, um socialista científico e um anarquista.
                   Segundo o socialismo utópico é possível transformar a sociedade sem que haja conflito entre burgueses e operários. Segundo Saint-Simon (1817), as empresas capitalistas não precisavam ser extintas, desde que houvesse uma consciência responsável com relação aos trabalhadores. Robert Owen se dedicou à criação das primeiras Associações de Trabalhadores, conhecidas como Trede-Unions.
                   Rasseneur, dono da Taverna (Pequeno restaurante) representa o socialismo utópico. Para ele era necessário que todos os mineiros se filiassem a Associação Internacional dos Trabalhadores. Acreditava que nem a companhia nem os operários tinham interesse em uma greve, pois ambos sofreriam, e era necessário chegar a um acordo.
                   Por outro lado, há o socialismo científico, que foi introduzido por Karl Marx e Engels, em o Manifesto Comunista (1848). Segundo esta corrente de pensamento, as condições de vida e de trabalho da classe trabalhadora só melhoraria através das revoluções, da luta de classe e da luta armada, em casos mais extremos. Após a instauração do Socialismo, surgiria o comunismo. Segundo Karl Marx,

“o proletariado utilizará seu domínio político para arrancar pouco a pouco todo o capital à burguesia para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, ou seja, do proletariado organizado como classe dominante” (1848, P. 66)

                   Em países mais avançados, seria necessário aplicar o Decálogo Marxista, para instaurar o socialismo científico. As dez medidas seriam, segundo Marx (1848, P. 66-67):
1-    “Expropriação da propriedade fundiária e emprego da renda da terra nas despesas do Estado.”
2-    “Imposto Fortemente progressivo”
3-    “Abolição do direito de herança”
4-    “Confisco da propriedade de todos os emigrados e rebeldes”
5-    “Centralização do crédito nas mãos do Estado, por meio de um banco nacional com capital do Estado e monopólio exclusivo.”
6-    “Centralização dos meios de transporte nas mãos do Estado”
7-    “Multiplicação das fábricas nacionais e dos instrumentos de produção; cultivo e melhoramento das terras segundo um plano comum.”
8-    “Trabalho obrigatório igual para todos; constituição de exércitos industriais, especialmente para a agricultura.”
9-    “Unificação dos serviços agrícola e industrial; medidas tendentes a eliminar gradualmente as diferenças entre cidade e campo”
10-  “Educação pública e gratuita de todas as crianças. Eliminação do trabalho das crianças nas fábricas em sua forma atual. Combinação da educação com a produção material, etc.”
                   Este quadro só permaneceria enquanto houvesse classes, pois com seu desparecimento e com toda a produção concentrada nas mãos dos indivíduos associados, o poder público perderia seu caráter político, pois os antagonismos de classes e a dominação seriam extirpados. Em lugar da sociedade burguesa, surgiria uma associação de livre desenvolvimento para todos.
                   Etiénne representa o socialismo científico, pois além de incitar a revolução entre os operários, ele afirmava que a burguesia teria que encontrar razão para trabalhar, pois seria cada um segundo seus méritos e sua fome. Para ele, os patrões cederiam mediante as revoltas dos operários, no entanto, era necessário evitar derramamento de sangue.
                   Em contrapartida a Etienne e Rasseneur, o Russo Suvarin não acreditava na evolução das forças naturais, e defendia que as cidades precisavam ser queimadas. E quando não restasse nada deste mundo, pudessem criar outro melhor. Rassenur queria que os trabalhadores se filiassem a internacional e lutassem frente a frente com os donos do capital; Etiénne queria fazer a greve, pois um operário sozinho não é ninguém, mas unido representa uma grande força. Etiénne queria igualdade, diferente de Suvarin, que queria destruir tudo.
                   O trabalhador morria de fome, em contrapartida, o empregador nada podia fazer, pois se aumentasse o salário, as minas poderiam falir. Sem minas, não haveria emprego. Os salários eram ditados pela competição. Segundo Weber (1905, P. 56), “o homem não deseja ‘naturalmente’ ganhar mais e mais dinheiro, mas viver simplesmente como foi acostumado a viver e ganhar o necessário para isso”. A aquisição de bens econômicos não estava interligada a satisfação das necessidades e o acúmulo de dinheiro é pensado como um fim em si mesmo. Weber (1905, P.52) dizia que o capitalismo industrial veio para dominar a vida econômica, educar e selecionar os sujeitos que precisa.
                   As minas contrataram imigrantes para substituir o grevista, pois o trabalhador era um produto descartável, e a produção não podia parar, pois tempo é dinheiro. Um operário enriqueceu na loteria, e seu primeiro pensamento foi viver dos rendimentos, o que prova que a sociedade era individualista, darwinista. O próprio Etiénne percebeu que o mais inteligente sempre dominaria o mais fraco. No entanto, percebeu também que com as greves uma nova consciência havia nascido na mente do trabalhador. A luta de classes ficou evidenciada quando um operário matou uma burguesa a sangue frio. Era a fome lutando contra a fartura.
                   Segundo Emile Durkheim (1893), a sociedade era comparada a um organismo, apresentando estados normais e estados patológicos. Todo aquele que extrapolava o consenso, a ordem social, era considerado um estado patológico. Segundo ele, as revoluções e as greves são doenças na sociedade, pois deve ser seguido o consenso, pois é a sociedade que estrutura o indivíduo. Em contrapartida, Weber defendia que o indivíduo formava a sociedade e ele observava a mesma e modificava a sua estrutura. Observa-se que com as revoluções, os indivíduos mudaram a estrutura social. Não houve mudanças imediatas, mas houve mudanças a longo prazo, permitindo o surgimento dos sindicatos e dos direitos trabalhistas.

Resumo: A semente que semeais, outro colhe – A história da riqueza do homem (Leo Hubermann)
                  
                   Segundo Léo Huberman, para compreender o porquê das greves e piquetes feitos pelos trabalhadores seria necessário retornar à história da Revolução Industrial na Inglaterra. Neste período a produção de algodão, ferro, carvão e de qualquer mercadoria avançou exponencialmente.
                   O lucro dos empresários cresceu durante este período, devido ao aumento das vendas. Em contrapartida, milhões de seres humanos estavam vivendo em situações de pobreza e degradação. Enquanto uma grande parte da população trabalhava duramente, a outra parcela nunca “sujou” as mãos com o trabalho e faziam leis para controlar a massa. A divisão entre ricos e pobres se tornou mais acentuada com o advento das máquinas. Devido a competição de mercadorias feitas por elas, fazia com que os ricos ficassem mais ricos e os pobres, mais pobres.
                   A máquina apresentou uma contradição, pois ao invés de tornar o trabalho mais leve, o tornou pior. Para os donos, elas não podiam parar, pois representava um grande capital. Com o avanço tecnológico, eles acreditavam que deveriam utilizar o máximo das máquinas e o mais rápido possível, por isso a jornada de trabalho era longa. As máquinas representavam um grande investimento, por isso o bem-estar delas era mais importante que dos homens. “Buscavam o máximo de força de trabalho pelo mínimo necessário para pagá-las”. Como as mulheres e crianças podiam cuidar do maquinário e receber menos que os homens, deram-lhes trabalho enquanto os homens ficavam sem ocupação.
                   Diante de uma comissão do Parlamento em 1816, o Sr. John Moss, antigo capataz de aprendizes de uma fábrica de tecidos de algodão, afirmou que a maioria das crianças que trabalhavam eram aprendizes órfãos; afirmou também que os que vinham de Londres tinham entre 7 e 11 anos e os de Liverpool, tinham entre 8 e 15 anos, e eram aprendizes até os 21. O horário de trabalho mesmo para crianças era extenuante, de 5 da manhã até as 8 da noite. As crianças, segundo o capataz, trabalhavam em pé e não havia cadeiras nas fábricas para se sentarem, e por isso havia acidentes com muita frequência. Uma das crianças, Thomas Clarke, em 1883, disse que apanhavam dos capatazes quando adormeciam. O capataz costumava bater nas crianças com uma corda que tinha a grossura de um polegar. As crianças eram obrigadas a trabalhar para ter alguma coisa. Elas ganhavam cerca de 4 xelins.
                   No início a indústria contratava órfãos, com o tempo, as crianças dos trabalhadores tiveram que trabalhar para sustentar a si e a família. O trabalho infanto-juvenil antes era um complemento da renda dos pais, agora, passaram a ser a base do novo sistema. “Até mesmo um senhor de escravo das Índias Ocidentais poderia surpreender-se com o bago dia de trabalho das crianças”. Os donos de escravos consideravam desumano uma criança trabalhar 16 horas por dia.
                   Quando os trabalhadores conquistaram o direito de trabalhar em dois turnos de 12 horas, eles consideraram isso uma benção. No entanto, eles estavam acostumados a se ocupar com longas jornadas. Trabalhar com hora determinada e sob ordens de um capataz era algo novo para eles. Os fiandeiros de uma fábrica próximo a Manchester trabalhavam 14 horas por dia em uma temperatura de 26 a 290 °C, sem terem permissão de seus capatazes para ir buscar água, podendo estar sujeitos a multas e penalidades. ”A maioria dos males só existem em companhias exploradoras ou em comunidades atrasadas, como por exemplo, receber em bônus ou ter de comprar no armazém da companhia, ou ainda, morar em uma casa da companhia – isso era comum entre as famílias dos trabalhadores no início do industrialismo”.
                   Com a máquina a vapor, as fábricas que se localizavam junto às quedas d’águas, se instalaram nas cidades, próximo as minas. Lugares sem importância tornaram-se cidades. Em 1770, a população rural da Inglaterra era de 40% do total; em 1841, a proporção caíra para 26%. No entanto, segundo, Nassau Senior, economista de renome, que passou por Manchester em 1837, afirmou que essas novas cidades foram construídas sem nenhum tipo de consideração. Nesses lugares encontrava-se ruas seguindo todo o curso de canais, porque dessa forma era possível conseguir porões mais profundos, sem o custo de escavação; porões destinados a moradia de seres humanos. Não tinham pavimentação, e pelo meio corria uma vala. Não havia ventilação, nem esgotos. Quem nascia no outro lado da cidade era considerado de sorte. A média de vida era medida pela rua em que se morava. Em 1844, o Dr. P.H. Holland, relatou que em algumas ruas a taxa de mortalidade era quatro vezes maior que em outras ruas, devido as péssimas condições. A maioria das pessoas não se preocupavam se uma criança trabalhava de 12 a 16 horas por dia, muito menos que morava em subúrbios, pois consolavam-se com a ideia de que tinha que ser assim.
                   O Sr. Griddy, presidente da Royal Society, foi contra a criação de escolas para as crianças das classes trabalhadoras. Para ele “dar educação às classes trabalhadoras pobres seria prejudicial a sua moral e felicidade, pois aprenderiam a desprezar a sua sorte na vida ao invés de fazer deles bons servos na agricultura e outros empregos laboriosos... isso permitiria que lessem e fossem indolentes com seus superiores”
                   Em 1835, Andrew Ure escreveu que viu “dezenas de milhares de pessoas ganhando alimento abundante, roupas e acomodações domésticas sem suar por um único poro, protegidos do Sol do verão e da geada do inverno em apartamentos arejados e saudáveis. “ Enquanto muitos nunca puseram as mãos no trabalho, outros trabalhavam para sustentar o sistema fabril e encontravam-se em situações de miséria. Tudo o que o filho de um pobre necessitava encontrava-se em duas palavras: “indústria e inocência”.
                   Em 1793, o Arquidiácono Paley escreveu palavras de consolo. Foi nesta época que os pobres da França estavam tentando derrubar os ricos. A Revolução Francesa foi um acontecimento sangrento. Os ricos na Inglaterra não gostaram. Paley advertiu aos ingleses que a única modificação a ser desejada era o “melhoramento gradual e progressivo, fruto da indústria bem aplicada”. Era absolutamente impossível querer tomar a força a fortuna dos ricos através de tumultos e confusões públicas.  Os pobres ingleses aceitaram o conselho do padre. Não “tomaram a fortuna dos ricos”, mas com o passar do tempo, começaram a desejar aquele “melhoramento gradual e progressivo”. Tal melhoramento não ocorreu, por isso eles revolveram conquistar através da luta. Eles levaram a luta para o parlamento com a ajuda de alguns ricos que também achavam desumano jornadas de trabalho de 16 horas.
                   As máquinas produziam mercadorias a preços tão baixos que não era possível aumentar os salários. Os trabalhadores passaram a pensar nos dias anteriores a máquina e eles perguntaram a causa de sua miséria, e sempre chegavam a mesma conclusão: As máquinas haviam roubado o trabalho dos homens e reduzido o preço das mercadorias! Desta forma, eles resolveram destruí-las. Todas as máquinas que pareciam ter provocado a miséria foram destruídas, esmagadas e queimadas. Em 1812, o parlamento aprovou uma lei de pena de morte para quem destruísse as máquinas. Mas antes da aprovação desta lei, um dos membros da câmara de Londres fez um discurso opondo-se à medida. Para ele, a causa da destruição das máquinas era a destruição dos homens.
                   Destruir o maquinário não resolveria a situação dos trabalhadores. Não era a máquina a causa de todos os males e sim os donos que os estavam afastando dos meios de produção. Percebendo isto, os trabalhadores fizeram várias petições ao Parlamento, onde muitas foram deixadas de lado. Eles descobriram que a mesma lei podia ser aplicada de formas diferentes. Isso ocorria porque quem ouvia as reclamações no Magistrado era o próprio patrão. Os trabalhadores logo perceberam que o governo civil tinha por instituição a defesa do rico contra o pobre. Desta forma, eles decidiram lutar pelo direito do voto. Eles queriam escolher os legisladores, pois se as leis podiam proteger os fazendeiros contra as importações do trigo, e os industrias com os impostos, também poderiam proteger os trabalhadores com os salários e os horários de trabalho.
                   Na Inglaterra, a classe trabalhadora formou o movimento cartista, que reivindicava a votação universal para os homens, pagamento aos membros eleitos da Câmara dos Comuns (o que tornaria possível a candidatura dos pobres), parlamentos anuais, nenhuma restrição de propriedade para os candidatos, voto secreto, para evitar intimidações e igualdade dos distritos eleitorais. O movimento cartista desapareceu lentamente, mas uma após a outra, essas reivindicações foram conquistadas (exceto a dos parlamentos anuais).
                   Segundo o Padre Stephens, não foi o voto que foi o fator mais importante na conquista de melhores condições para os trabalhadores, mas a sua própria organização, lutando na defesa de seus próprios interesses – o sindicato.
                   O sindicato foi uma das formas mais antigas de organização dos trabalhadores. O capital nas industrias tornou-se tão grande que as associações de trabalhadores modificaram seu caráter passando do tipo de corporação para os sindicatos de hoje. Os sindicatos não sugiram rapidamente, levou muito tempo para que os trabalhadores tivessem interesse de classe.
                   Como a Revolução Industrial trouxe consigo a concentração dos trabalhadores nas cidades, foi necessário o surgimento do sindicalismo. A organização da classe trabalhadora cresceu com o capitalismo, que produziu o sentimento de classe. Os trabalhadores perceberam que como indivíduos eram fracos, mas unidos, eram fortes. Segundo Engels em 1844, “as grandes cidades são o berço dos movimentos trabalhistas; nelas a oposição entre proletariado e burguesia se manifestou inicialmente; delas saíram o sindicalismo, o cartismo e o socialismo”.
                   As Associações de Trabalhadores foram consideradas ilegais no século XIV. Em 1776, Adams Smith escreveu que os trabalhadores desejavam conseguir o máximo possível, e os patrões dar o mínimo. Mesmo que os patrões estivessem em menor número, eles podiam se reunir com maior facilidade. As leis não proibiam suas reuniões, mas proibiam as associações dos trabalhadores. Na Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos a lei foi dura com os sindicatos. O Juiz William Garrow em uma de suas sentenças, disse que não era necessário se associar, pois todos eram igualmente protegidos pela lei. E que os empregadores empregavam de 100 a 130 pessoas, e por isso era necessário ter gratidão. Os trabalhadores eram alertados contra as associações. Segundo Levasseur, “o trabalho traz conforto e consideração, e as associações apenas os levavam a prisão e a pobreza”. Porém, os trabalhadores conservaram a lembrança de que foi a greve de 1822 que lhes elevaram os salários para 35 cêntimos por hora, e que foi a greve de 1833, que os elevara para 40 cêntimos e a de 1845 que obtiveram 50 cêntimos.
                   Na Alemanha os trabalhadores também aprenderam que os sindicatos lhes davam força para melhorar a sorte. Eles pediram e lutaram pelo seu direito de se associar a sindicatos. Líderes e trabalhadores associados foram mortos e apedrejados, no entanto, o sindicato resistiu. Seus membros foram presos, os bens confiscados, e eles tiveram que passar para a luta subterrânea – tornaram-se associações beneficentes ou clubes sociais. A greve e os piquetes foram proibidos, mas mesmo assim o sindicato sobreviveu. E eles eram considerados, o meio mais poderoso que os trabalhadores tinham para obter o que desejavam – um melhor padrão de vida.

Análise comparativa entre o filme e o texto

                   Tanto o filme Germinal quanto o Capítulo XVI do livro A História da Riqueza do Homem retratam as consequências da Revolução Industrial na vida dos trabalhadores. Germinal conta a história dos mineradores das minas Voreux de uma cidade chamada Marchiennes (Cidade Francesa), e o livro conta a história de operários de uma cidade chamada Manchester (Cidade Inglesa).
                   A situação das duas cidades não era diferente. Num período de 1770 a 1841, os países, que tinham pequenas cidades passaram a comportar cidades enormes, porém mal estruturadas, onde as indústrias se concentravam e espalhavam seus produtos por todo o mundo. Manchester é um ponto de referência para isto, que era habitada por setenta mil habitantes; cinquenta anos depois possuía 300 mil pessoas.            Tanto em uma cidade quanto na outra, as crianças e mulheres trabalhavam com salário mais baixo que dos homens e com carga horária extenuantes. Ganhavam apenas um salário de subsistência.
                   Um dos fatos mais importantes da Revolução Industrial foi o surgimento do proletariado. Em Marchiennes, os operários se revoltaram e fizeram greves violentas, sabotando e explodindo as minas.  Em Manchester, os trabalhadores quebraram todas as máquinas. No Germinal já existia a Associação dos trabalhadores, no entanto, os mineiros não se associaram, eles preferiram se unir e enfrentar a burguesia de frente com as greves. Germinal conta o processo de germinação dos movimentos sindicais. Por mais que os trabalhadores não tivessem conquistados todos os direitos que desejavam, a semente havia sido plantada e um dia voltaria a germinar. O início do sindicato foi com os movimentos sociais.
                   Em Manchester, o sindicato já estava formado, porém lutava para sobreviver, pois as leis o tornaram ilegais. Tanto na Inglaterra, quanto na França existiam leis duras em relação as Associações e o Sindicalismo, no entanto, as condições dos trabalhadores só mudaram quando eles se organizaram.
                   As greves ocorridas em Manchiennes foram um dos motivos que fizeram com que o trabalhador continuasse a sua luta por melhores condições de vida e não desistissem de reunir-se em sindicatos, mesmo que a lei não estivessem do lado deles. As principais armas dos sindicatos, como a greve e os piquetes haviam se tornado ilegais, mas mesmo assim, eles sobreviveram, e era o meio mais poderoso de conquistar melhores condições de trabalho. Os pobres deixaram se confrontar com os ricos, e formaram a classe operária, com uma nova consciência de seus interesses. Eles lutaram criticando o capitalismo e inclinando-se ao socialismo, como uma alternativa de mudar a sociedade. Mesmo que as leis proibissem os sindicatos, eles reergueram-se clandestinamente. Apenas em 1884, que a França reconheceu a legalidade dos mesmos.
Germinal conta sobre o processo de formação dos sindicatos através das greves; a semente que semeais, outro colhe, conta a história dos sindicatos e como eles sobreviveram.

Conclusão: Comentário final relacionando o filme e o texto com a atualidade

Certamente, não se pode falar em direitos dos trabalhadores, sem remeter-se aos direitos humanos. Foi a partir do Século XIII, na Inglaterra que foram criadas as primeiras cartas e estatutos que resguardavam os direitos. Em 1215, a Magna Carta protegia os homens livres e limitava o poder do Rei. Nesta carta, o Rei João renunciou alguns direitos e se submeteu a lei. Em 1628, a Petition of Rights solicitava que os direitos e a liberdade dos súditos do rei fossem reconhecidos. Uma das cartas mais importantes foi a Bill of Rights (1689) que foi escrita pelo Parlamento que determinou a liberdade, a vida e a propriedade privada. Esta carta submetia a monarquia a soberania popular, transformando a Inglaterra em uma monarquia constitucional. Foram muitas cargas escritas, no entanto, todos esses direitos eram apenas para os ingleses. O restante do mundo não estava incluído nestes documentos.
Com a independência dos Estados Unidos da América foram criados documentos importantes para a história dos direitos humanos, como a Constituição Americana de 1787, que limitava o Estado e defendia que a liberdade jurídica deveria ser ampliada a todos os cidadãos. Entretanto, haviam distinções, pois a escravidão ainda não havia sido abolida.
Somente com a Revolução Francesa (1789) que os direitos humanos começaram a ser vistos como “universais”. Eles eram baseados na igualdade e na liberdade, expressos na Declaração dos Direitos do homem e do cidadão. No entanto, esses direitos não se estendiam as mulheres. Durante a Revolução Industrial ocorrida no final do século XVIII, houve total desrespeito com os direitos humanos, pois as condições de trabalho e de vida nos primeiros anos da revolução eram extremamente desumanos. Mesmo com a Declaração dos direitos do homem, que ocorreu paralelo com a Revolução Industrial, nem os trabalhadores franceses nem os ingleses tiveram seus direitos humanos respaldados. A Declaração de direitos do homem funcionou apenas para a classe rica, embora fosse teoricamente para todos os homens. A Revolução Industrial foi um marco importante para a história, sem ela, não seria permitido o desenvolvimento dos dias atuais. No entanto, apesar de tanto progresso, na época da Revolução Industrial diversos problemas sociais tornaram-se acentuados, fazendo-se necessário o surgimento da sociologia como ciência para que a nova sociedade industrial pudesse ser analisada. Os direitos dos trabalhadores foram conquistados graças a uma nova consciência de classe provenientes da Revolução Francesa e da Revolução Industrial.
A Constituição Mexicana (1917) foi a primeira a estabelecer como direito fundamental os direitos trabalhistas, como a limitação da jornada de trabalho, a proteção a maternidade, o trabalho noturno proibido para menores na indústria. Esta constituição foi extremamente importante, pois em um passado não muito distante, as pessoas eram tratadas como máquinas.
A humanidade passou por duas grandes guerras mundiais. Hitler exterminou milhões de pessoas. O mundo precisava repensar os conceitos sobre direitos humanos.  Em 1945 foi a escrita a Carta das Nações Unidas, que foi um acordo pós segunda guerra mundial, sendo ratificado por vários países, incluindo o Brasil, com o decreto n° 19.841 de 22 de outubro de 1945. Os países juntaram-se com o propósito básico de reafirmar a fé nos direitos humanos.
Em 1945, Eleanor Roosevelt elaborou e aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos no Organização das Nações Unidas. Esta declaração possui 30 artigos, que visa a liberdade, a igualdade e a fraternidade. De acordo com a declaração todos os seres humanos nascem iguais em dignidade e direitos, são dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns com os outros com espirito de fraternidade. Todos os seres humanos têm direito a vida, a liberdade e a segurança pessoal. Ninguém mais poderá ser mantido em escravidão e nem poderá ser submetido a tortura. Todos terão direito à liberdade de expressão e de escolher uma religião. E todos têm direito a educação gratuita. Os direitos são universais, interpessoais e indivisíveis.
Mesmo que a declaração tenha sido assinada, não foram todos os países que a seguiram, pois na época não teve força da lei, era opcional a cada Estado, por isso pode-se notar tantas contradições da declaração com a realidade. Atualmente diversos países, como a França, a Inglaterra, os Estados Unidos e o Brasil, consideram em suas constituições, o direito dos trabalhadores de fazer greves. As greves foram legalizadas quase dois séculos depois da Primeira Revolução Industrial, afirmando que elas não poderiam ser violentas. Atualmente, os sindicatos são instituições políticas de negociação coletiva e são economicamente dependentes. Por exemplo, a Constituição Federal Brasileira de 1988 reconhece o direito à sindicalização, à greve, à luta pela dignidade. E em seu Art. 8° III reza que “ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas".








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